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BIOMÉDICO CONSEGUE SE COMUNICAR COM CIENTISTA DURANTE SONHO LÚCIDO

15/10/2011 09:00

Matéria extraida do site do Globo Repórter (https://g1.globo.com/globo-reporter):

 

Sonhos lúcidos são aqueles em que sabemos que estamos sonhando. A maioria acorda ao ter essa consciência, mas um homem foi mais longe.

 

Cenário de sonho, de verão, de muitos dias gloriosos e radiantes. A capital do Rio Grande do Norte também é um importante centro para o estudo dos mistérios dos sonhos de verdade, noturnos. Ou melhor, daquele jeito meio consciente de sonhar.

Sonhos em que sabemos estar sonhando: o assunto empolga o neurocientista Sidarta Ribeiro, que dirige o Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “No sono normal, a pessoa sente que é um ator de um filme que ela não controla. Em um sonho lúcido, a pessoa é o diretor do sonho, o roteirista, o produtor. Ela controla todos os elementos do sonho potencialmente”, explica Sidarta.

O tema tem sido bem explorado no cinema. O filme “A origem” é uma aventura vertiginosa com sonhos dentro de sonhos, dentro de outros sonhos, dentro de mais sonhos. E tudo pilotado pelos sonhadores.

Bruno Grego, de 29 anos, é biomédico, estudante de doutorado e sonhador voluntário em uma pesquisa com ares de ficção científica: “Como você sabe que está sonhando, você tem mais liberdade de fazer coisas que você não faria normalmente”, explica Bruno.

“As possibilidades são infinitas: a pessoa pode voar”, explica Sidarta. Como nos filmes da trilogia “Matrix”: a cena do treinamento de artes marciais é um clássico. Na vida real, pesquisadores alemães associados ao grupo do professor Sidarta já fizeram experiências com atividades mais simples, como arremessar moedas.

“Colocavam um copinho à distância e a pessoa tinha que acertar uma moeda nesse copinho. Esse copinho colocado cada vez mais distante e tinha uma taxa de acerto. Depois, a pessoa entrava em sonho lúcido e treinava essa habilidade, ou não. Quando ela voltava, tinham, de fato, um desempenho melhor”, explica Sidarta.

O problema é que, ao tomar consciência de estar em um sonho, a maioria das pessoas tende a acordar imediatamente. Mas nos testes realizados em Natal, nas madrugadas do hospital universitário, Bruno foi um dos voluntários com maior capacidade de continuar adormecido.

“O sonho lúcido só acontece quando o corpo já descansou bastante. A pessoa está próxima de acordar, próxima de ir para a vigília. Então, nessa transição para a vigília, ela desperta para dentro, ao invés de acordar”, conta Sidarta.

Mas qual seria a vantagem dessa experiência? Criar uma defesa para quem sofreu traumas que provocam pesadelos frequentes?

“Se a gente conseguir induzir o sonho lúcido nessa pessoa, ela pode, durante o pesadelo, reconhecer que aquilo é somente pesadelo e não ter nenhum medo ou ansiedade associados ao pesadelo”, explica o pesquisador do Laboratório do Sono Sérgio Rolim.

E como são esses sonhos lúcidos do Bruno? “Eu tenho com certa frequência, pelo menos uma ou duas vezes por semana. Às vezes até consigo retomar o sonho que eu estava tendo. Já sonhei, quando estava no laboratório, que estava dentro do laboratório. O teto abriu e começaram a cair pipas do céu”, conta.

Os testes tentam, inclusive, estabelecer uma comunicação entre quem dorme e quem pesquisa: “Eu combino com a pessoa, com o sonhador, para fazer um movimento com os olhos. Coloco os eletrodos próximos do olho. Se a pessoa conseguir ter um sonho lúcido, ela faz um movimento com os olhos, eu espero um tempo, depois que a pessoa faz o movimento, e acordo a pessoa”, conta Sérgio.

Detalhe: o sinal só é válido se o sono estiver comprovado pelo padrão das ondas cerebrais. Bruno já conseguiu se comunicar dormindo, um desafio para quem tenta desvendar esse mistério.

“Eu acho que a gente presta pouca atenção aos sonhos”, conta Sidarta.

Mas podemos dizer que somos pioneiros em estudar o sono. No Hospital das Clínicas, em São Paulo, uma reunião mensal reúne especialistas e estudantes que trabalham sob orientação do neurologista Rubens Reimão, fundador do Ambulatório do Sono há 34 anos.

“Tem gente que precisa dormir mais, tem gente que não precisa tanto. Isso é verdade, mas existe um limite importante. A média que a gente pode falar, na população adulta em geral, é de oito horas de sono. A gente pode falar que uma pessoa pode suportar uma hora a menos de sono por um tempo e dá para ir levando no dia a dia. Mas mais do que uma hora a menos do que ela devia dormir, ela já começa no dia seguinte a mostrar consequências, como sonolências, acidentes, dormir no trabalho, na escola”, explica Sidarta.

A recomendação básica é higiene do sono: tratá-lo como se faz com os dentes, com a alimentação.